Esquecida na Memória de Crianças Tolas

É dificil de aceitar mas não consigo me mexer, meus pés estão enraizados no concreto frio, acorrentada por todos os lados estou crucificada e não posso me mexer. Asfixiada por todos os venenos voadores estou prestes a morrer. Estou a vomitar todas as palavras no copo sujo deixado ao chão. Ninguem me socorre, ninguém me vê, nem ao menos me escuta. Abandonada pela covardia dos homens, esquecida na memória de crianças tolas que um dia empinaram pipa ao meu lado. Deixada de lado, na sarjeta como um mendigo bêbado e estupido. Por que fizeram isto comigo? Será este o meu castigo? Sou pecadora, mas vocês, seus vermes imundos, vocês também são. Atiraram todas as pedras em mim e me culparam por todos os erros mundanos, chamaram-me de Judas e nínguem estava lá para me defender. Cadê vocês que comigo estavam nas tardes ensolaradas? Cadê vocês que me apoiavam em qualquer circustância? Sim, eles ainda se lembram de mim, porque o que eu fiz por eles é dificil de se esquecer. Famintos e abandonados fui eu quem estendi a mão e os acolhi, desconcertados e com frio fui eu quem os protegeu e os aqueceu de todos os males. Ingratos malditos! Condenada e castigada estou aqui na angústia da solidão apodrecendo aos poucos, esperando para que alguem ainda me socorra e tudo acabe rápido. A imensa dor já não pode mais ser sentida, é forte demais ser abandonada por aqueles que um dia te chamaram de mãe. Desesperançosa já aceitei a minha condição. Contando as horas, os minutos... será que ainda falta muito? Quero aliviar meu estado deprimente. Adormeço, mas logo sou acordada por uma forte luz que ofusca a minha visão. Quase cega não sinto mais o peso do julgamento, pareço limpa de toda aquela sujeira imposta por alheios, dou o primeiro passo cautelosamente e sinto o poder de estar livre. Tento olhar para trás, mas uma força divina diz que não devo. Vôo para o horizonte, guiada pelo céu azul e infinito, livre daquele corpo agora sou apenas a minha alma!

Patrícia Viana e Sá